RESISTÊNCIA DC - CUIDADO COM AS ARMADILHAS

Não cansaremos de repetir que a medição da resistência DC sozinha não garante características de timbre, é apenas o fator que consideramos o primeiro a se entender na comparação de captadores semelhantes. Um captador de alta resistência DC pode ter bastante brilho, porém vai precisar de outros atributos para isso (um ímã específico, uma bobina mais estreita e outras coisas que explicaremos nos próximos artigos). Assim como um captador de resistência DC mais baixa pode gerar um sinal mais intenso por causa de outros atributos de construção.Então, encerraremos o assunto de resistência DC apontando 3 armadilhas muito comuns que costumam pegar os novatos quando começam a explorar esse universo: comparar captadores de construção diferente, se preocupar com pequenas variações de valores e não atentar à temperatura da bobina sendo medida.

ARMADILHA 1: CAPTADORES DE CONSTRUÇÃO DIFERENTE

Como antecipamos no artigo anterior, reparem que até aqui só comparamos dois captadores de construção semelhante! Um equívoco muito comum no uso da resistência DC para comparativos é tomar como referências captadores de construções distintas. Se o captador tiver formato diferente, quantidade de bobinas diferente etc., a medição de resistência DC não serve de parâmetro. Um captador do tipo Fender Precision, por exemplo, não deve ter sua resistência DC comparada com um do tipo Jazz Bass, ou um captador de Gibson EB-3, pois essa comparação de leitura não mostrará praticamente nada. Basta observar fotos deles para notar que os formatos são completamente diferentes, o que indica que há muitos outros fatores em jogo para que você possa comparar um ao outro, como explicamos no artigo anterior Começando a entender o captador.

Outro exemplo interessante está nos humbuckers de formato tradicional que possuem também uma versão em formato de single. A Seymour Duncan, por exemplo, oferece o modelo Little ‘59 como uma versão do seu humbucker ‘59 feita para encaixar perfeitamente numa strato. O fato do tamanho do captador ser diferente já nos impede de usar a medida de resistência DC, mesmo que ambos sejam feitos pra alcançar o mesmo resultado sonoro.

Por outro lado, a resistência DC poderia ser usada para comparar o Little ‘59 com o JB Jr, captadores com construção semelhante. Já o modelo ‘59, precisaria ser comparado com o Custom 5 ou o Alnico II Pro, por exemplo, todos humbuckers tradicionais de construção semelhante.

ARMADILHA 2: PEQUENAS VARIAÇÕES DE VALORES

Já explicamos antes que a bobina do captador é composta de milhares de voltas de um fio finíssimo. Agora, imagine que até pequenas diferenças na tensão de enrolamento da bobina podem alterar a resistência DC do fio (falaremos disso em detalhes no artigo específico sobre a bobina). Ao longo de um enrolamento manual de 7 mil, 8 mil, 10 mil voltas, você terá vários pequenos trechos em que o fio ficou um pouco mais tensionado, outros vários em que ele ficou um pouco mais frouxo. Isso vai alterar a resistência DC sem alterar a quantidade de voltas da bobina.

Isso significa que há uma tolerância relativamente grande para os valores de resistência DC de um mesmo captador, principalmente se ele for enrolado a mão. Ou seja, para um captador divulgado como tendo uma resistência DC de 8,2k ohms, você pode medir unidades com 7,9k, outras com 8,5k e assim por diante. Essas diferenças pequenas na medição de resistência representam diferenças praticamente imperceptíveis na prática, ou seja, todas as medidas acima estão corretas para um captador listado como tendo 8,2k ohms.

Isso também significa que variações pequenas entre captadores não devem ser usadas para avaliar diferenças de funcionamento e comportamento. Ou seja, um captador humbucker com resistência DC de 9k não necessariamente gera um sinal de maior intensidade do que um de 8k. Muitos outros fatores podem fazer o de 8k gerar um sinal de maior amplitude, como por exemplo: variações na tensão do fio, no campo magnético gerado pelo ímã, no formato e orientação do ímã etc. Não é a toa que esses são os assuntos dos nossos próximos artigos. Então, quando podemos levar essa diferença de medição ao pé da letra? Quando medimos captadores semelhantes, com ímãs semelhantes, feitos de maneira semelhante (pelo mesmo fabricante, por exemplo), aí sim uma diferença de 1k pode confirmar uma diferença relevante no som do captador. É por isso que começamos focando em diferenças grandes, é porque aí não há dúvidas: um humbucker tradicional com 8k de resistência DC sempre terá menos volume (e gerará menos distorção) do que um de 16k, quaisquer que sejam os ímãs utilizados.

Mesmo com 2,5k a menos de resistência DC, a Seymour Duncan informa que o modelo Custom Custom tem maior nível de saída (“output”) do que o modelo Stag Mag, ambos usando o mesmo tipo de ímã. A explicação está no tipo de construção, mais especificamente no formato e posicionamento desses ímãs: enquanto o Custom Custom é construído como um humbucker tradicional, com ímã em barra posicionado abaixo das bobinas; o Stag Mag é construído como se fossem dois singles Fender juntos, ou seja, os ímãs são os 12 polos cilíndricos que você enxerga no topo do captador. Quer entender tudo isso? Siga adiante até o nosso artigo Elementos básicos: ímã.

ARMADILHA 3: A TEMPERATURA MUDA A RESISTÊNCIA DC

Pois é, ainda tem essa: o aumento da temperatura eleva a resistência DC da bobina do captador, enquanto em um ambiente mais frio essa resistência é reduzida. Então, se você mora num lugar quente, ou está mexendo na guitarra sob um ar condicionado ajustado a 18 graus Celsius, ou se você acabou de soldar e o captador ainda está morno, considere que a resistência medida será diferente. Ou seja, o ideal seria conseguirmos medir sempre sob uma temperatura padrão, o que obviamente é impraticável. Então fica apenas o lembrete: se você comprar o captador de um pequeno fabricante do Canadá, provavelmente a resistência DC que ele mediu lá ao norte, pertinho do Papai Noel, terá uma boa diferença em relação à que você medirá no verão tropical do Brasil, por exemplo.